Dou-lhes
hoje o tema do artigo em latim, mas não por ter tido um lapso de memória. Sei
muito bem que seria mais útil falar na nossa própria língua. Mas apresento-lhes
hoje este ponto do Credo em latim de maneira proposital
porque sua tradução habitual pode levar-nos a conclusões erradas.
Desceu aos infernos (ou “à mansão dos
mortos” conforme a tradução litúrgica), repetimos nós, sem saber muito bem o
que estamos dizendo. O que entendemos por inferno é um lugar ou estado de
castigo. Ora, seria um absurdo admitir, mesmo por hipótese, que Cristo tivesse
descido ao inferno, tomando a palavra nesse sentido. Sabemos que Ele pregou aos
espíritos que estavam na prisão. Mas não teria sentido pregar aos espíritos
incapazes de se arrepender.
Por isso, deve estar claro que nosso
Senhor não desceu ao lugar do castigo eterno (ad infernum), mas dirigiu-se às pessoas que estavam embaixo (ad inferos), no mundo inferior, destino
de todos os que morriam, lugar no qual estavam todas as pessoas que tiveram uma
vida santa e que aguardavam a ressurreição de Jesus para poderem entrar no céu.
Por isso que o título está em latim: para percebermos a sutileza deste artigo
da fé.
A doutrina da Igreja nos ensina que
essas almas santas (Patriarcas, profetas, etc) que esperavam o seu Libertador,
no seio de Abraão, foram libertadas por Jesus, quando ele desceu à mansão dos
mortos (ad inferos, aos infernos –
mundo inferior). Portanto, Jesus não desceu aos infernos para destruir o
inferno da condenação, mas para libertar os justos que o haviam precedido e
aguardavam um Salvador.
“A Boa Nova foi igualmente anunciada aos
mortos [...]” (cf. 1Pd 4, 6). A descida à mansão dos mortos seria o
complemento, em plenitude, do anúncio evangélico da salvação. É a fase última
da missão messiânica de Jesus. Os mortos também foram atingidos pela morte
redentora de Jesus.
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